Em Alfama, estender anúncios com a roupa vai ajudar a pagar a renda
Com a crise do mercado do arrendamento na ordem do dia, neste bairro, em troca de roupas com promoções no estendal, há apoios.
É um projeto piloto e em fase experimental — do seu sucesso dependerá se foi aqui encontrada uma de muitas possíveis soluções ou ajudas para o problema da gentrificação e das rendas nas grandes cidades.
Pendurar anúncios no estendal de roupa e receber ajuda financeira — neste caso, em vales de compras — por o fazer. Foi esta a ideia de uma agência de publicidade e de uma marca que, juntamente com uma associação social local, decidiram experimentar em Alfama um conceito que pode mudar a vida de muitas pessoas.
A ideia chama-se Estende a Renda e pretende ajudar a população de Alfama, nesta primeira fase, com as rendas cada vez mais caras, usando algo que é visto por milhares de pessoas todos os dias: os seus estendais exteriores. Em troca de peças com publicidade a marcas, recebem contrapartidas.
O pressuposto é o de que Portugal, com Lisboa no topo, tem vivido um problema, mais notório nos bairros históricos e tradicionais. Devido à valorização dos imóveis, muitos moradores da zona histórica estão a ser expulsos das suas casas para dar espaço ao turismo e ao alojamento local. Os arrendamentos sobem, os alojamentos locais são mais 400 por cento no bairro de Alfama desde 2016, os valores médios de uma renda ali rondam os 90 por cento do salário médio de um português.
Para tentar atenuar este problema, a agência criativa NOSSA desenvolveu uma rede de publicidade com base num ícone típico dos bairros lisboetas: os estendais. Ao estender peças de roupa com publicidade das marcas aderentes, cada morador poderá assim obter algum rendimento extra de um espaço que já é seu, e tentar minimizar o aumento das rendas.
À NiT, o Diretor Criativo e partner da NOSSA, Nuno Cardoso, explica como tudo aconteceu. O cliente, a cadeia de supermercados Minipreço/Dia, procurava algo diferente no ano do seu 40º aniversário. “Enquanto agência que cria soluções para resolver problemas de comunicação, não somos insensíveis a este tipo de questões da cidade de Lisboa e da gentrificação e surgiu-nos uma ideia enquanto quase exercício de cidadania, de tentar ajudar as lógicas pedidas ao serviço de um problema real”, explica.
“Obviamente não ambicionamos resolver todos os problemas mas dar um apoio as pessoas dos bairros históricos, uma ferramenta, aproveitando o facto de tantas pessoas e turistas passarem por estes bairros. Há visibilidade, e desta pode ser conseguido um apoio e uma ferramenta para fazer face ao aumento das rendas”.
Sendo o Minipreço assumidamente um grupo de “supermercados de proximidade, de bairro, gostaram e mostraram-se sensíveis à questão”, conta ainda o diretor criativo.
Para pôr o projeto em marcha da forma mais justa e transparente possível, foi pedida uma ajuda. “Procurámos uma associação, neste caso a APPA (Associação do Património e da População de Alfama), porque não queríamos ser nós a gerir esta questão. E a associação é que tem o contacto da população, é que sabe quem são as populações mais carenciadas”, adianta. A APPA encontrou as primeiras famílias.
Tudo começou a acontecer esta quinta-feira, dia 19 de setembro: já foram colocados os primeiros estendais com publicidade em Alfama. “Está a acontecer de forma um bocadinho experimental, não sabemos ainda qual o impacto desta ideia mas em poucas horas parece ser enorme”, diz Cardoso.
Deste impacto, depende o que aí vem. Neste momento o projeto é com este cliente e só no bairro de Alfama, em 12 famílias sinalizadas pela APPA. A associação é que fez o contacto com as pessoas, que vão receber vales de compras. “Não podíamos dar dinheiro mas foram escolhidas famílias com dificuldades nas rendas, pelo que acaba por ser uma ajuda direta a este problema”, explica a agência.
Mas o objetivo é que esta ideia ganha asas e “saia até da NOSSA, do Minipreço e da APPA e que outras marcas e outros bairros agarrem nisto e arranjem outras formas de suavizar esta questão”, conclui o responsável.
A agência adianta que o Porto já mostrou interesse e a cadeia de supermercados reforça em comunicado que, “depois de avaliados os resultados e a receptividade de outros moradores, está previsto que a campanha “Estende a Renda” seja alargada a outros bairros típicos do país”.
Quem quiser informações ou estabelecer contacto pode fazê-lo através do site.
Fonte: Nit