Porto de Lisboa abre ao público os painéis de Almada Negreiros (e de graça)
Ainda este mês, na nossa rubrica O Rossio na Betesga lançámos o desafio ao Porto de Lisboa. “Não podiam abri-los um domingo por mês? Ou umas quantas vezes por ano, já era alguma coisa… fica a sugestão”, escrevemos num artigo dedicado à história da Gare Marítima da Rocha do Conde de Óbidos. Um desejo agora concedido em ambas as gares projectadas nos anos 40 pelo modernista arquitecto Porfírio Pardal Monteiro.
Até agora, era apenas possível fazer visitas guiadas gratuitas para grupos com um mínimo de dez pessoas, mas a nova iniciativa que arranca no fim-de-semana de 27 e 28 de Julho, entre as 10.00 e as 13.00 e entre as 14.00 e as 18.00, aceita curiosos avulso. E permitirá à população ver ou rever os murais que Almada Negreiros criou para as duas estruturas, com evocações de cenas marítimas, fluviais e ribeirinhas: dois trípticos e duas composições isoladas, num total de oito painéis, inaugurados em 1943 no segundo piso da Gare Marítima de Alcântara; e seis painéis na Gare Marítima da Rocha Conde d’Óbidos (1949), também no piso dois.
O que pode ver?
Na Gare Marítima de Alcântara, encontra um tríptico com uma ilustração inspirada no romance popular da “nau Catrineta”, uma composição poética em jeito de poesia medieval sobre as viagens marítimas na época dos Descobrimentos (“Lá vem a nau Catrineta que tem muito que contar! Ouvide, agora, senhores, uma história de pasmar”). Noutro tríptico, Almada eternizou a Lisboa sua contemporânea, com marinheiros, pescadores, varinas, fragatas ou traineiras, o casario de Lisboa e alguns dos seus principais monumentos, como o Castelo de São Jorge, o Aqueduto das Águas Livres ou a Sé Catedral. Os outros dois painéis isolados revelam a lenda de D. Fuas Roupinho, salvo no século XII de um abismo pela Virgem da Nazaré, bem como a cena bucólica “Ó Terra onde Eu Nasci”, uma alegoria ao Portugal rústico.
O trabalho de Almada para a Gare Marítima da Rocha do Conde de Óbidos centra-se mais nos aspectos da vida do cais, entre saltimbancos e passeios matinais, obras nos estaleiros e despedidas de quem fica e de quem vai. Figuras de composição mais geométrica, onde se encontram representações de típicos lisboetas. Em entrevista ao Diário de Notícias, em 1953, o artista revelava: “Creio não haver antes cumprido melhor, nem feito obra que fosse mais minha”.
Fonte: TimeOut