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Cultura

O melhor fotógrafo de viagens do mundo é português. Eis 28 dos seus olhares

A paixão que o português Joel Santos nutre pela fotografia é diferente das outras. Nasceu com ele, mas não se revelou cedo. Durante a infância, o mais perto que esteve de uma máquina fotográfica foi para estar à frente dela e ser o “modelo predileto” do pai: “Passei frio, trepei em cima de pontes, foram maus bocados”, conta ao Observador em tom de brincadeira. Não podia adivinhar que, já depois de uma longa caminhada académica pela Economia, a fotografia se cruzaria com ele. E que um dia se tornaria famoso por ser o melhor fotógrafo de viagens do mundo.

Aos 38 anos, e depois de sete livros sobre o universo da fotografia nas bancas, Joel Santos fez história: tornou-se no primeiro artista a ser premiado no concurso “Travel Photographer of the Year” com imagens captadas por um drone. E conseguiu-o através de dois portfólios de fotografias diferentes, ambos revelando uma segunda paixão de Joel: o vulcanismo. O primeiro portfólio continha imagens do vulcão Erta Ale e do Deserto do Sal, na conturbada Depressão de Danakil, região de Afar (Etiópia). Além da ferocidade da própria Natureza, que lhe conferiu uma atividade geológica muito grande e a pôs sempre sob temperaturas altíssimas, a região fica na zona de conflitos entre o país e a Somália, tornando-a bastante perigosa.

A atmosfera junto ao vulcão foi filmada por Joel Santos e as imagens podem ser vistas neste vídeo.

Em Danakil, outra região conquistou a atenção de Joel Santos. Foi o deserto de sal, terra natal dos afares , que fica 100 metros abaixo do nível médio do mar. Os locais dedicam-se à mineração do sal sob temperaturas escaldantes que podem atingir os 60ºC. O dia-a-dia deste povo foi captado em vídeo e pode ser visto aqui em baixo.

O segundo portfólio resultou de uma viagem ao Gana, quando Joel acompanhava o trabalho da Filhos do Coração – uma organização não-governamental que ajuda crianças escravizadas. Nessa estadia, o fotógrafo português conheceu os pescadores do lago Bosumtwi, uma das poucas crateras de impacto (formadas aquando do embate de um meteorito) cobertas de água. “Estes pescadores não sabem que o lago nasceu desta forma, mas sentem uma energia nele e veneram-no. Por isso não usam metal para não contaminar o lago. Só utilizam tábuas de madeira e redes tradicionais para pescar”, conta Joel Santos ao Observador. A vida destes pescadores também foi acompanhada em vídeo pelo fotógrafo português.

Embora as fotografias de Joel Santos sejam sempre feitas de vida – a cultura das populações, a Natureza verdejante ou a fúria da Terra -, o fotógrafo admite que a visão que tem sobre esta arte é diferente. Embora seja sempre uma “exploração emocional, instintiva e ligada à sensibilidade”, há algo de pragmático nela: “Há pessoas que dizem ver cores e auras à volta das coisas. Eu não vejo nada disso. Quando olho para as coisas vejo linhas, geometrias, proporções”. E é atrás delas que Joel segue.

Talvez este seja o resultado da veia matemática que Joel Santos nunca abandonou. Licenciou-se em Economia e terminou um mestrado na mesma área. Curiosamente, foram os números que o encaminharam para o mundo das artes: “Tinha de escrever a minha tese de mestrado. Por isso pedi uma licença de seis meses para não a ter de escrever naquele tempo recorde. Senti necessidade de algo para desanuviar e comecei a fotografar”, explica ao Observador. De repente, a paixão adormecida na infância despertou e Joel Santos ganhou gosto por “a cada dia descobrir algo diferente, como um miúdo”.

Timor, onde deu aulas, tornou-se assim no berço onde Joel Santos encontrou um novo escape. A viagem, que devia ter durado três meses, transformou-se numa estadia de três anos. Guarda também com especial carinho a viagem à Indonésia, por causa das pessoas e dos vulcões com que se cruzou por lá (e onde voltou 14 vezes) e à Índia, um país que é “uma chapada da vida” e “uma das maiores experiências pessoais por que alguém pode passar”. Admite que todas as viagens são especiais, mas que nunca sabe onde vai a seguir: “O planeta é pequenino, mas nem quatro ou cinco vidas chegariam para o conhecer. Eu sou lisboeta e sinto que nem Lisboa conheço como deve ser”, confessa-nos Joel Santos.

Mas o que quer um fotógrafo quando conquista um dos maiores prémios da fotografia? Nada mais do que continuar a contar histórias com originalidade, a encontrar satisfação pessoal como principal motivador e a criar arte. Há dez anos que não concorria a nenhum concurso porque, na verdade, só agora sente que está no caminho certo: “Quero criar documentos e, na medida do que posso, contribuir humildemente para deixar a minha marca na História”.

Fonte: Observador

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