Mariza: “Chamavam-nos retornados e achavam que vínhamos roubar empregos aos portugueses”
Em entrevista à BLITZ a propósito da publicação da sua biografia, Mariza reflete sobre o racismo e a memória do colonialismo português. “Não sou retornada, mas o meu pai era. As pessoas achavam que quem vinha das ex-colónias vinha tirar as casas aos portugueses. Nunca imaginavam que essas pessoas podiam trazer grandes mais-valias a um país que ia passar por uma grande mudança. E foi o que aconteceu”, defende a fadista, que nasceu em Moçambique e veio para Portugal em criança
Num dos primeiros capítulos, a fadista recorda — com a ajuda da jornalista Dina Soares, que escreveu o livro — os primeiros tempos em Portugal. Nascida em Moçambique, filha de mãe moçambicana e pai português, Mariza veio com a família para Lisboa aos 3 anos de idade.
Questionada sobre se Portugal é hoje mais ou menos racista, responde Mariza: “Eu sinto que existe muitas vezes um olhar para alguém que tenha um tom de pele diferente. Mas, comparando com os anos 70, não tem nada a ver. Somos um Portugal muito mais moderno, mais informado… os jovens de hoje têm uma cabeça virada para o mundo, onde isso não tem a importância que tinha naquela altura. Não nos podemos esquecer que nos anos 70 Portugal estava a sair de uma guerra com as ex-colónias”, aponta.
“Eu não sou retornada, mas o meu pai era. Chamavam-nos retornados, o que tinha uma conotação muito negativa. As pessoas achavam que quem vinha dessas ex-colónias vinha roubar os empregos e tirar as casas que eram para as pessoas que viviam em Portugal e para os portugueses, apesar de nós nos considerarmos de alguma forma portugueses. Nunca imaginavam que essas pessoas podiam trazer grandes mais-valias a um país que ia passar por uma grande mudança. E foi o que aconteceu.”
Foto de Capa: Tiago Miranda
Fonte: Blitz