Mais enxuta, TAP deslancha expansão
A empresa pretende ampliar a frota de aviões, de 90 para 130 até 2022. Em contratações, o quadro de funcionários está previsto para crescer de 12 mil para 15 mil. O número de pilotos passará de 1.100 para 1.700. Em receita, a perspectiva é crescer de 8% a 10% ao ano. No ano passado, a receita ficou em € 2,977 bilhões. A meta para 2022 é € 4,4 bilhões.
“Não tenho dúvida de que a TAP precisará multiplicar o lucro líquido por sete nos próximos anos. Mas considero esse resultado possível, baseado no nosso plano de expansão”, diz Neves, em entrevista ao Valor. Ele assumiu o comando da TAP em 31 de janeiro deste ano. Já estava na TAP como diretor comercial. Antes disso, comandou a Azul e foi sócio da consultoria Mckinsey.
No ano passado, a TAP teve lucro líquido de € 21,2 milhões. No anterior, havia registrado prejuízo. No primeiro semestre deste ano, a receita cresceu de 18%, para € 1,5 bilhão. Mas a última linha do balanço ficou no vermelho. O prejuízo líquido de € 90 milhões, uma perda 66,7% maior do que a apurada no primeiro semestre de 2017. O prejuízo deve-se a gastos não recorrentes com reestruturação de € 40 milhões. Excluindo esses gastos, segundo a TAP, haveria lucro operacional de € 1 milhão.
Neves considera possível atingir margem de lucro operacional de 8% a 10% até o fim de 2022. A melhora no resultado operacional será obtida com aumento na receita, graças à maior oferta de voos, e com mais redução de custos, segundo o executivo. Ele citou como exemplo um corte de 15% nos gastos com combustível, esperado com a substituição de aeronaves antigas por modelos de nova geração.
Neves disse que a maior parte dos ajustes em custos foi feita neste ano. Como parte desses esforços, a companhia reestruturou a TAP Manutenção e Engenharia (antiga Varig Engenharia e Manutenção). A unidade cortou em torno de 1 mil funcionários, reduzindo a equipe para 600 pessoas. E fechou uma unidade de manutenção em Porto Alegre, ficando com apenas uma unidade no Rio de Janeiro. Neves disse que essa reestruturação levou a TAP Manutenção ao equilíbrio financeiro.
Na Europa, a TAP fechou cinco escritórios regionais, ficando apenas com unidades na Inglaterra e em Portugal. A companhia também fechou acordo sindical de cinco anos com seus pilotos, com previsão de reajuste salarial de 15% nesse intervalo.
O plano de expansão prevê a criação de 40 novos destinos de voos até 2022, sendo 14 novos destinos em 2019. O crescimento, disse Neves, será feito principalmente para Estados Unidos e Europa.
No Brasil, a intenção é crescer em 2019 com a adoção de aviões contendo mais assentos. A TAP também avalia ter voos diários de Lisboa para Recife, Natal e João Pessoa. “O plano inicial consiste em ampliar a frequência de voos entre Lisboa e Natal”, disse Neves.
Em 2019, a companhia pretende dobrar o número de voos para os Estados Unidos, com a criação de voos de Lisboa para Washington DC, Chicago e San Francisco. No ano passado, os Estados Unidos responderam por 10% da operação da TAP no mundo. O Brasil responde por 24% e Portugal, por 21%.
“A expansão que faremos pode ser considerada de baixo risco, porque os novos voos têm como destinos cidades com demanda firme. O que faremos será competir em tráfego com outras aéreas”, diz Neves. A TAP pode oferecer voos para as Américas a preços mais baixos do que as rivais, garante o executivo. Isso é possível porque Lisboa está mais perto das Américas do que outras capitais europeias. Um voo de Lisboa para os EUA custa, segundo Neves, US$ 2 mil a menos do que voos saindo de outras capitais europeias.
Para ampliar a oferta de destinos a partir de Lisboa, a TAP encomendou 71 aeronaves da Airbus, que serão entregues entre 2018 e 2025. Desse total, sete estão previstas para até o primeiro trimestre de 2019. A perspectiva para 2018 é fechar o ano com 96 ou 97 aeronaves em uso. “Ao todo, 80% da frota de longo curso será renovada em cinco anos”, disse Neves.
A TAP também possui 13 aviões da Embraer, cujos contratos de arrendamento vencem em três anos. Neves disse que a TAP não definiu novas compras com a Embraer. “O foco neste ano e em 2019 é garantir o recebimento das aeronaves já contratadas. A partir do segundo semestre de 2019 vamos pensar se faremos a compra de aeronaves da Embraer e de outros fabricantes”, afirmou Neves.
A companhia também está reforçando o quadro de funcionários. Contratou 1.350 pessoas neste ano. Prevê contratar mais 3 mil pessoas até 2022. Desse total, 600 serão pilotos contratados entre 2018 e 2020. Neves disse que já contratou em torno de 120 pilotos em Portugal. Neste mês, a companhia abriu programas de recrutamento no Brasil, na Inglaterra e na Espanha.
“No Brasil tivemos mais de 1.200 candidatos em três dias”, disse Neves, que está em São Paulo para acompanhar esse processo. O executivo espera contratar pelo menos 50 pilotos brasileiros, mas não há limite a ser atingido no país. Neves decidiu contratar no Brasil porque o país possui pilotos com qualidade profissional. “Além disso, o país tem uma cultura parecida com a de Portugal, o que facilita a adaptação dos pilotos”.
Para os próximos anos, Neves estima que a operação no Brasil crescerá em receita entre 8% e 10% ao ano. Neste ano, no país, o crescimento da oferta de assentos foi de 14%. Nos últimos dois anos, a TAP ampliou o número de voos no país de 70 para 82 voos por semana.
Em 2017, a TAP transportou globalmente 14 milhões de passageiros. Para este ano, a previsão é chegar a 16 milhões de pessoas, um avanço de 14,3%. “Estamos conseguindo crescer e gerar receita para suportar o plano de crescimento, além do esforço para cortar custos”, afirmou Neves.
A TAP foi privatizada em 2015, em um processo conturbado. O Estado português tornou-se sócio do consórcio privado Atlantic Gateway, capitaneado por David Neeleman, controlador da brasileira Azul, e Humberto Pedrosa, dono do grupo português de transportes Barraqueiro. Em fevereiro de 2016, foi assinado um novo acordo com o consórcio, até então detentor da maioria do capital. O Estado português passou a deter 50% da empresa; 45% ficaram com a Atlantic Gateway e 5% com os trabalhadores e colaboradores da TAP.
Foto: Gonçalo Martins, @goncalo_martins93