fbpx
Economia

Mais enxuta, TAP deslancha expansão

A companhia aérea portuguesa TAP, que passou por um processo de privatização conturbado há três anos, tem um plano de expansão até 2022 considerado de baixo risco por seu presidente, Antonoaldo Neves. Nos últimos anos, a companhia cortou custos e ficou mais enxuta. Agora vai começar a aumentar a frota de aviões, contratar mais pilotos, abrir mais voos onde houver demanda firme e buscar aumento robusto de lucro.

A empresa pretende ampliar a frota de aviões, de 90 para 130 até 2022. Em contratações, o quadro de funcionários está previsto para crescer de 12 mil para 15 mil. O número de pilotos passará de 1.100 para 1.700. Em receita, a perspectiva é crescer de 8% a 10% ao ano. No ano passado, a receita ficou em € 2,977 bilhões. A meta para 2022 é € 4,4 bilhões.

“Não tenho dúvida de que a TAP precisará multiplicar o lucro líquido por sete nos próximos anos. Mas considero esse resultado possível, baseado no nosso plano de expansão”, diz Neves, em entrevista ao Valor. Ele assumiu o comando da TAP em 31 de janeiro deste ano. Já estava na TAP como diretor comercial. Antes disso, comandou a Azul e foi sócio da consultoria Mckinsey.

No ano passado, a TAP teve lucro líquido de € 21,2 milhões. No anterior, havia registrado prejuízo. No primeiro semestre deste ano, a receita cresceu de 18%, para € 1,5 bilhão. Mas a última linha do balanço ficou no vermelho. O prejuízo líquido de € 90 milhões, uma perda 66,7% maior do que a apurada no primeiro semestre de 2017. O prejuízo deve-se a gastos não recorrentes com reestruturação de € 40 milhões. Excluindo esses gastos, segundo a TAP, haveria lucro operacional de € 1 milhão.

Neves considera possível atingir margem de lucro operacional de 8% a 10% até o fim de 2022. A melhora no resultado operacional será obtida com aumento na receita, graças à maior oferta de voos, e com mais redução de custos, segundo o executivo. Ele citou como exemplo um corte de 15% nos gastos com combustível, esperado com a substituição de aeronaves antigas por modelos de nova geração.

Neves disse que a maior parte dos ajustes em custos foi feita neste ano. Como parte desses esforços, a companhia reestruturou a TAP Manutenção e Engenharia (antiga Varig Engenharia e Manutenção). A unidade cortou em torno de 1 mil funcionários, reduzindo a equipe para 600 pessoas. E fechou uma unidade de manutenção em Porto Alegre, ficando com apenas uma unidade no Rio de Janeiro. Neves disse que essa reestruturação levou a TAP Manutenção ao equilíbrio financeiro.

Na Europa, a TAP fechou cinco escritórios regionais, ficando apenas com unidades na Inglaterra e em Portugal. A companhia também fechou acordo sindical de cinco anos com seus pilotos, com previsão de reajuste salarial de 15% nesse intervalo.

O plano de expansão prevê a criação de 40 novos destinos de voos até 2022, sendo 14 novos destinos em 2019. O crescimento, disse Neves, será feito principalmente para Estados Unidos e Europa.

No Brasil, a intenção é crescer em 2019 com a adoção de aviões contendo mais assentos. A TAP também avalia ter voos diários de Lisboa para Recife, Natal e João Pessoa. “O plano inicial consiste em ampliar a frequência de voos entre Lisboa e Natal”, disse Neves.

Em 2019, a companhia pretende dobrar o número de voos para os Estados Unidos, com a criação de voos de Lisboa para Washington DC, Chicago e San Francisco. No ano passado, os Estados Unidos responderam por 10% da operação da TAP no mundo. O Brasil responde por 24% e Portugal, por 21%.

“A expansão que faremos pode ser considerada de baixo risco, porque os novos voos têm como destinos cidades com demanda firme. O que faremos será competir em tráfego com outras aéreas”, diz Neves. A TAP pode oferecer voos para as Américas a preços mais baixos do que as rivais, garante o executivo. Isso é possível porque Lisboa está mais perto das Américas do que outras capitais europeias. Um voo de Lisboa para os EUA custa, segundo Neves, US$ 2 mil a menos do que voos saindo de outras capitais europeias.

Para ampliar a oferta de destinos a partir de Lisboa, a TAP encomendou 71 aeronaves da Airbus, que serão entregues entre 2018 e 2025. Desse total, sete estão previstas para até o primeiro trimestre de 2019. A perspectiva para 2018 é fechar o ano com 96 ou 97 aeronaves em uso. “Ao todo, 80% da frota de longo curso será renovada em cinco anos”, disse Neves.

A TAP também possui 13 aviões da Embraer, cujos contratos de arrendamento vencem em três anos. Neves disse que a TAP não definiu novas compras com a Embraer. “O foco neste ano e em 2019 é garantir o recebimento das aeronaves já contratadas. A partir do segundo semestre de 2019 vamos pensar se faremos a compra de aeronaves da Embraer e de outros fabricantes”, afirmou Neves.

A companhia também está reforçando o quadro de funcionários. Contratou 1.350 pessoas neste ano. Prevê contratar mais 3 mil pessoas até 2022. Desse total, 600 serão pilotos contratados entre 2018 e 2020. Neves disse que já contratou em torno de 120 pilotos em Portugal. Neste mês, a companhia abriu programas de recrutamento no Brasil, na Inglaterra e na Espanha.

“No Brasil tivemos mais de 1.200 candidatos em três dias”, disse Neves, que está em São Paulo para acompanhar esse processo. O executivo espera contratar pelo menos 50 pilotos brasileiros, mas não há limite a ser atingido no país. Neves decidiu contratar no Brasil porque o país possui pilotos com qualidade profissional. “Além disso, o país tem uma cultura parecida com a de Portugal, o que facilita a adaptação dos pilotos”.

Para os próximos anos, Neves estima que a operação no Brasil crescerá em receita entre 8% e 10% ao ano. Neste ano, no país, o crescimento da oferta de assentos foi de 14%. Nos últimos dois anos, a TAP ampliou o número de voos no país de 70 para 82 voos por semana.

Em 2017, a TAP transportou globalmente 14 milhões de passageiros. Para este ano, a previsão é chegar a 16 milhões de pessoas, um avanço de 14,3%. “Estamos conseguindo crescer e gerar receita para suportar o plano de crescimento, além do esforço para cortar custos”, afirmou Neves.

A TAP foi privatizada em 2015, em um processo conturbado. O Estado português tornou-se sócio do consórcio privado Atlantic Gateway, capitaneado por David Neeleman, controlador da brasileira Azul, e Humberto Pedrosa, dono do grupo português de transportes Barraqueiro. Em fevereiro de 2016, foi assinado um novo acordo com o consórcio, até então detentor da maioria do capital. O Estado português passou a deter 50% da empresa; 45% ficaram com a Atlantic Gateway e 5% com os trabalhadores e colaboradores da TAP.

 

Foto: Gonçalo Martins, @goncalo_martins93

Fonte: Valor

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *