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Este geoparque algarvio esconde verdadeiros tesouros — e quer ser candidato à UNESCO

Esconde segredos geológicos, trilhos e ribeiras frescas, paisagens deslumbrantes e até uma espécie única no mundo.

 

Existem apenas cinco em todo o território português. Os geoparques são locais especiais que têm origem em fenómenos geológicos, mas não só. O título atribuído pela UNESCO é cobiçado e a região de Loulé, Silves e Albufeira está a preparar uma candidatura. Ainda mantém o título de aspirante, mas as relíquias naturais, essas estão onde sempre estiveram, com ou sem título, à disposição de quem as quiser visitar.

Tudo começou com uma descoberta única, a do Metoposaurus Algarvensis, uma espécie de salamandra com mais de dois metros de comprimento e que terá vivido na região há mais de 227 milhões de anos.

“Foi descoberta pela equipa do Professor Octávio Mateus em 2015, que contactou o presidente da Câmara de Loulé que teve uma recetividade muito grande”, explica à NiT Cristina Veiga Pires, diretora científica do geoparque que recebeu o nome da espécie, Algarvensis. Esta foi a descoberta que impulsionou toda a candidatura.

“Para se ser geoparque mundial da UNESCO é preciso ter pelo menos um geossítio, um achado internacional único em todo o mundo. A descoberta do Metaposauro Algarvensis permitiu-nos entrar nessa corrida”.

A região algarvia pretende, então, entrar para o grupo onde estão já os geoparques Naturtejo, Estrela, Arouca, Terras de Cavaleiros e dos Açores. O Algarvensis faz parte do grupo de quatro aspirantes. Mas ainda há um longo caminho a percorrer.

“O último geoparque a ser aceite foi o da Estrela e o processo demorou quase dez anos”, nota a diretora científica do geoparque que, para receber o reconhecimento da UNESCO, precisa de uma entidade de gestão própria, que ainda não existe. “Por enquanto o projeto é liderado pelas Câmaras de Silves, Loulé e Albufeira, em parceria com a Universidade do Algarve.” Só então será possível finalmente formalizar a candidatura.

Seja como for, o que se pretende dar a descobrir é uma história natural com muitos milhões de anos. Um património que se expande por mais de 1.300 quilómetros quadrados, quase um terço do território da região do Algarve, com pistas de um passado longínquo, ainda anterior ao do aparecimento dos dinossauros.

“O termo geoparque por vezes é enganador”, alerta Cristina Veiga Pires. “Não é só a geologia que conta. O grande interesse aqui é ligar as pessoas ao território através de tudo o que faz um território: do artesanato ao turismo, às novas atividades, à arte. É uma visão transversal e integradora que tenta basear-se em tudo o que está debaixo dos nossos pés.”

Há muito para ver e para visitar e, embora ainda estejam a ser criados muitos dos percursos que guiarão as pessoas pelas paisagens, existem já inúmeros locais assinalados que merecem uma visita. Nota importante: o local original onde foram encontrados os primeiros vestígios da espécie única da região não pode ser visitado; mas o esqueleto está exposto no Museu Municipal de Loulé.

As joias do parque

Existe um sem número de locais de interesse para conhecer. Alguns são verdadeiros achados geológicos, como a Rocha da Pena, classificada como paisagem protegida. Um planalto que atinge 480 metros de altitude e dois quilómetros de comprimento. Na escarpa observam-se calcários do período Jurássico. Foi numa das suas vertentes que foi descoberto o Metoposaurus Algarvensis.

É possível também visitar a Falha de São Marcos, em Quarteira, uma estrutura com mais de 350 milhões de anos; ou a formação Grés de Silves, a formação de rocha avermelhada que empresta o tom a monumentos como o Castelo de Silves e que resulta de sedimentos do Triásico Superior e Jurássico Inferior, entre 230 e 200 milhões de anos.

Talvez ainda mais imponente — e pouco própria a claustrofóbicos — é a Mina de Sal-Gema, a “Não existe em mais nenhum sítio no País uma mina onde se desce a 230 metros para recuperar o sal”, explica a diretora científica. “Tem galerias imponentes com cerca de cinco metros de altura. É como se estivéssemos numa catedral”.

 

É um sítio a descobrir longe das praias

Por enquanto, a descida é feita no estreito elevador que transporta até oito mineiros, eles que continuam a trabalhar na mina ativa. Existe, no entanto, um projeto para criar um elevador mais largo com capacidade para mais de 20 pessoas de uma só vez.

Além das visitas e do trabalho de extração do sal, o espaço é também usado para exposições e eventos culturais. É atualmente a casa de uma instalação de arte contemporânea que irá ser inaugurada a 29 de junho e por lá ficará até 31 de agosto.

O geoparque acolhe, nestes meses de verão, vários eventos culturais, numa iniciativa chamada Geopalcos que dura até 12 de setembro. “Tentamos levar as pessoas que gostam de arte a locais naturais onde não iriam; e colocar arte nos geossítios para que as pessoas mais ligadas à natureza as encontrem ao ar livre”, explica.

Leva a diversos locais ao ar livre instalações artísticas, esculturas, teatro, pinturas e exposições fotográficas, num evento que pretendem realizar de forma bianual.

É, no fundo, o local ideal para uns dias de férias a explorar a natureza, deixando de lado as habituais praias algarvias. Porém, neste período de calor intenso, Cristina Veiga Pires aconselha algumas das zonas mais recatadas e frescas do parque, como a ribeira da Fonte Benémola, ou até mesmo o Pico Alto, que permite observar o por do sol — e, claro, já é o orgulhoso portador de um dos tão famosos baloiços.

“É o Algarve escondido, das ribeiras, das praias fluviais que dificilmente se visitam no verão, até porque são ribeiras temporárias. Escondem-se aqui alguns dos segredos mais bem guardados do interior do Algarve.”

 

Fonte: Nit

 

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