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Boom no turismo faz disparar oferta de emprego no setor

O primeiro contacto profissional de Valerio Boto com o turismo aconteceu em 2012. “Candidatei-me para a Housetrip e fui aceite. A empresa não vingou, mas na altura a ideia era que se tornasse na grande concorrente da Airbnb na Europa. O que me atraiu nem foi tanto o lado turístico, mas antes a parte tecnológica”, explica ao Dinheiro Vivo.

Licenciado em Comunicação e com um mestrado em Ciência Política, o facto de falar fluentemente cinco línguas – português, inglês, italiano, francês e espanhol – ajudou a que nunca mais abandonasse o setor. Depois de ano e meio na Housetrip, foi convidado para gerir propriedades de alojamento local em Itália, trabalhou mais tarde na startup portuguesa Doinn, que ajuda a tratar da limpeza em arrendamentos a turistas, e atualmente é guia turístico em Lisboa. “Visitamos monumentos, provas de vinho, fazemos passeios junto ao mar. É exigente, mas paga bem. Não tanto como pagaria em Paris, Roma ou Berlim, que são mercados turísticos consolidados. Portugal será sempre mais low cost, ao nível do norte de África. Mas compensa.”

Apesar de ainda não receber o fluxo de turistas dos seus congéneres europeus – Portugal acolhe pouco mais de 10% dos visitantes anuais de França, o turismo português é o que mais cresce na Europa, de acordo com o mais recente barómetro da Organização Mundial de Turismo. Isso reflete-se no emprego. Os dados do Instituto Nacional de Estatística mostram que, no primeiro trimestre de 2017, estavam 304,6 mil pessoas empregadas em atividades turísticas, mais 14,8% do que no mesmo período de 2016. O setor representava, nos primeiros três meses do ano, 6,5% de todo o emprego nacional, com uma subida de 0,6 pontos percentuais em relação peso do turismo no período homólogo do ano passado.

“Uma das maiores diferenças que notamos é que deixou de haver emprego sazonal. O verão continua a ser melhor, mas já não há uma diferença tão grande para o inverno”, indica Maria Teresa Andrada, responsável de marketing da EcoTukGuide. Nascida há mais de três anos, a empresa tem neste momento dez viaturas elétricas a circular pela zona de Lisboa, todas a funcionar em permanência. “Temos uma equipa grande de guias turísticos, a quem damos formação, e que falam vários idiomas: francês, alemão, romeno, japonês… Pelo menos o inglês todos têm que saber.”

A empresa está constantemente a recrutar e admite que a maior parte dos selecionados são estudantes. “Sobretudo no verão, quando os dias são maiores, precisamos de mais gente e eles estão de férias.” Segundo o Conselho Mundial de Viagens e Turismo, nos próximos dez anos poderão ser criados na União Europeia mais de 5 milhões de novos postos de trabalho relacionados com o turismo. De entre estes novos empregos, 20% destinam-se aos jovens com menos de 25 anos. Mas as vagas também abrangem o turismo especializado. João Jara da Birds & Nature, empresa de observação de aves com quase dez anos, reconhece que também tem estado a aproveitar o boom do setor. “Começámos muito alicerçados no mercado nacional. Em 2009, 80% dos nossos clientes eram portugueses. Neste momento, mais de 90% são estrangeiros”.

O empresário adianta, contudo, que essa mudança foi pensada e conseguida à custa da presença da Birds & Nature em feiras internacionais. Mas assume também que o crescimento orgânico do turismo português lhe trouxe nova clientela. “Sobretudo os que vêm por outros motivos que não especificamente a observação de aves. Há turistas que vêm conhecer o país e depois aproveitam um dia para fazer uma tour connosco. Aí crescemos muito à conta do boom, sim.” E se no início era apenas ele a fazer as excursões, neste momento tem a ajuda de mais 14 guias especializados. A oportunidade que o turismo trouxe para o país está patente no mundo do empreendedorismo. É um dos setores preferidos das startups. “Nós temos visto nos nossos programas cada vez mais pessoas interessadas. Há um entusiasmo muito grande.

Por um lado, porque é um setor que atualmente tem muita procura. Por outro lado, não é muito exigente em termos de investimento. Principalmente nos grandes centros urbanos é fácil começar um negócio sem muito dinheiro inicial”, indica António Lucena de Faria, presidente da Fábrica de Startups, entidade responsável pelo programa de aceleração “Tourism Explorers”, o maior a nível nacional que ajuda empresas da área do turismo. A iniciativa recebeu cerca de 200 inscrições e escolheu 86 startups em 12 cidades do país, onde estão a decorrer as sessões de acompanhamento. “A área do turismo ainda tem muitas oportunidades, mas é preciso ter noção que há oportunidades que são maiores que outras.

Queremos que as pessoas apareçam com boas ideias (além de uma boa equipa), mas também precisamos de as validar no mercado. É que se toda a gente decidir apostar no mesmo setor, a concorrência também aumenta,” alerta. Carla Marques, General Manager da Randstat Portugal, indica que o turismo trouxe várias oportunidades de negócio que, por sua vez, ajudaram a gerar mais emprego. “É uma área que está a crescer e a ter impacto. Nos últimos anos temos assistido a um crescimento muito grande do número de vagas, o que está a fazer é que estes talentos passem a ser cada vez mais caros.” Só que o emprego no turismo ainda tem arestas para limar. “Sobretudo no que diz à profissionalização do setor. Ainda há muita precariedade, muitos funcionários desprotegidos e sem vínculos laborais.

Por outro lado, é preciso também apostar na educação. Se as línguas são um ativo tão valioso, as escolas deviam apostar mais nelas”, conclui a responsável. A Autoridade para as Condições do Trabalho informou ontem que detetou, em julho e agosto, 270 trabalhadores não declarados e 16 falsos recibos verdes em 1400 locais de trabalho em todo o país, no no setor do alojamento e restauração. Os mais de 250 processos de contraordenação instaurados podem levar a multas entre os 200 mil euros e os 600 mil euros.

 

Fonte: Dinheiro Vivo

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