A Quinta de Marim, em Olhão, é um mergulho na fauna e flora da Ria Formosa
A Quinta de Marim, em Quelfes (Olhão), junta zonas de mata, sapais, dunas, charcos e salinas – uma amostra perfeita dos diferentes habitats do Parque Natural da Ria Formosa e dos valores a eles associados.
Lento e determinado, um camaleão atravessa-se no caminho arenoso e empoleira-se numa planta, imóvel. Quando se dá por ele, está da cor da vegetação envolvente. É a natureza a brindar os visitantes da Quinta de Marim com os seus subtis encantos, mostrando como é imperativo preservar esta espécie, ameaçada de extinção, e que em Portugal só existe na costa algarvia. O futuro Centro de Recuperação e Investigação do Camaleão do Algarve há de nascer nesta quinta de 60 hectares gerida pelo Instituto de Conservação da Natureza e Florestas. Até lá, nada como visitá-la percorrendo o trilho que começa no parque de merendas e passa por zonas de mata, sapais, dunas, charcos e salinas – uma amostra perfeita dos diferentes habitats do Parque Natural da Ria Formosa e dos valores a eles associados.
O objetivo do CENTRO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL DE MARIM, em Quelfes, é desenvolver atividades de sensibilização e educação ambiental, como a observação de aves, para alertar para a importância do parque natural, criado em 1987. “A laguna da Ria Formosa é extremamente importante para a migração das aves. No inverno, muitas delas ficam aqui porque tem um clima ameno. Os flamingos, por exemplo, têm comunidades residentes há muitos anos”, explica Ana Paula Martins, técnica do departamento de conservação da natureza e biodiversidade. Na zona húmida de sapal multiplicam-se as aves limícolas – como os mergulhões, a garça-branca, o maçarico-de-bico-direito e o perna-vermelha – que se alimentam de crustáceos, moluscos e pequenos peixes; e na zona intermareal da quinta avistam-se (entre abril e setembro), centenas de caranguejos Boca-cava-terra, durante a baixa-mar.
Paula chama também a atenção para os gaios (aves que se alimentam de bolotas) e as pegas-azuis; e para um sem-fim de espécies como o tomilho-cabeçudo (que só existe entre Quarteira e Vila Real de Santo António), os cravos-bravos e a arménia-gaditana (uma planta rara). A arborização envolvente, predominantemente mediterrânica, é composta por pinheiros mansos e bravos, medronheiros e aroeiras-comuns e proporciona uma sombra fulcral nas horas de maior calor. Já no final do passadiço de madeira – de onde se vê, em primeiro plano, a duna primária e ao longe as ilhas da Armona e da Culatra – surge o Moinho Novo de Marim. O engenho funcionou entre 1885 e 1970 e é um dos últimos existentes no Algarve, que chegou a ter mais de três dezenas. Está fechado a visitas, mas oferece uma vista privilegiada sobre toda a quinta e a ria, a partir do telhado.
Outra prova de como o homem foi aproveitando, desde tempos remotos, os recursos biológicos da Ria Formosa chega-nos do período em que a Quinta de Marim foi uma importante villae romana, a então Villa Marini, há dois mil anos. Escavações arqueológicas descobriram vestígios de cetárias (tanques) do século I d.C. usadas na conserva de peixe e na produção do molho garum; assim como um templo, balneários e um cemitério. Herennius terá sido o proprietário desta vila, que exportava a produção para todo o império.
Bilhete de Identidade do Parque Natural da Ria Formosa
● Parque Natural desde 1987
● Área total: 18 mil hectares
● Área lagunar: 11.800 hectares (incluindo dunas e praias)
● 57 quilómetros de extensão costeira
● 2 penínsulas, 5 ilhas-barreira, 6 barras
● 5 concelhos (Loulé, Faro, Olhão, Tavira e Vila Real de Santo António)
● Formada há 18 mil anos
● Habitat de 228 espécies de aves, 99 espécies de peixes, 34 espécies de mamíferos, 19
espécies de répteis, 12 espécies de anfíbios e 284 espécies de moluscos
● Aves migratórias caraterísticas: camão ou galinha-sultana (Porphyrio porphyrio),
símbolo do parque; garça-branca-pequena (Egretta garzetta); cegonha-branca (Ciconia
ciconia); andorinha-do-mar-anã (Sternula albifrons).
Subir ao Cerro de São Miguel
É o ponto mais alto da Serra de Monte Figo, com 411 metros de altitude, e por isso o elemento natural mais visível do sotavento. Desde a Antiguidade que serve de referência à navegação por cabotagem (navegação entre portos sem perder de vista a linha de costa).
Foto de Capa: Reinaldo Rodrigues/GI
Fonte: Evasões