7 jardins que contam histórias para ir passear
1. Jardim do Cerco, Mafra
Entre a vastidão da Tapada de Mafra e a monumentalidade do Palácio-Convento, o Jardim do Cerco, de estilo barroco, é um lugar de contemplação. Ali, acompanhados pelo chilrear dos pássaros, descobrem-se flores, lagos, e árvores frondosas e centenárias, sobretudo plátanos, sobreiros, carvalhos e magnólias. Para contar a sua história, é preciso recuar ao século XVIII, ao tempo de D. João V, o rei que mandou construir este jardim, originalmente para servir os monges do convento. É, aliás, desse tempo o engenhoso sistema hidráulico ainda em funcionamento. A água, recolhida em 32 nascentes existentes na vizinha Tapada Nacional de Mafra, é transportada através de um aqueduto, circulando graças ao efeito da gravidade, e serve para regar relvados, plantas, árvores e encher os lagos.
A nora centenária é peça central do sistema hidráulico original que alimenta o jardim com água da Tapada de Mafra. Fotos: Luís Barra
Com aproximadamente 9 hectares, o atual desenho foi idealizado pelo jardineiro francês Jean Baptiste Désiré Bonard, já no decurso do século XIX. Neste passeio, há duas paragens obrigatórias: uma para apreciar a nora centenária, peça central do tal sistema hidráulico; outra, para ver o lago das Omnias, com a sua bica em forma de cabeça de leão. Ali perto, já no horto das aromáticas, junto aos viveiros municipais, crescem cerca de 39 espécimes, entre eles rosmaninho, orégãos e madressilva. Por fim, vale a pena subir mais uns metros para visitar o Jogo da Bola, muito popular à época entre o clero e a nobreza, e descobrir as estátuas alusivas à mitologia romana. Lg. General Humberto Delgado, Mafra > T. 261 813 399 > seg-dom 9h-17h (out-mar), 9h-19h (abr-set) > grátis
2. Parque D. Carlos I, Caldas da Rainha
Passeios de barco no lago e visitas ao Museu de José Malhoa são algumas atividades neste parque com 12 hectares. Foto: Luís Barra
3. Jardim da Vila Sassetti, Sintra
Um percurso pedestre atravessa a propriedade, fazendo a ligação entre o centro histórico de Sintra e o Parque da Pena. Foto: Mário João
Quem percorre o Jardim da Vila Sassetti em toda a sua extensão leva na memória uma paisagem feita de Natureza e de património. “Embora a uma escala pequena, quando comparado com as quintas e os jardins de Sintra, temos uma perceção clara do que é um jardim criado no período do Romantismo ao estilo naturalista, e isso torna-o bastante singular”, explica Nuno Oliveira, diretor-técnico para o património natural da Parques de Sintra. Foi Victor Carlos Sassetti que, em 1890, encomendou a sua construção ao arquiteto Luigi Manini (o mesmo que viria a desenhar a Quinta da Regaleira), um projeto que incluía a Vila Sassetti, casa de recreio ao estilo dos castelos da Lombardia. Até chegar, em 2011, à Parques de Sintra, passou por várias mãos – entre 1920 e 1955, esteve alugado a Calouste Gulbenkian. Localizado na encosta norte da serra, o jardim estende-se por uma estreita faixa de terreno longitudinal, que liga o centro histórico da vila ao Palácio da Pena e ao Castelo dos Mouros. Primeiro, passa-se por um jardim romântico, onde se destaca a coleção de camélias classificadas e identificadas [ainda em flor, por esta altura], depois por zonas de floresta, como a de louriçais, “um habitat classificado de extrema importância do ponto de vista de conservação da Natureza”, salienta Nuno Oliveira. O caminho, sinuoso, é acompanhado por uma linha de água artificial e vegetação frondosa, por onde espreitam o Palácio da Vila, a Quinta da Regaleira e o mar. Uma forma diferente de conhecer os velhos segredos de Sintra. Lg. Ferreira de Castro, Sintra > seg-sex 10-18h, sáb-dom 10h-13h > grátis
4. Jardim das Casas Pintadas, Évora
Na primavera, o aroma da flor de laranjeira toma conta do Jardim das Casas Pintadas. As árvores de fruto, plantadas por Vasco Maria Eugénio de Almeida no final dos anos 60 do séc. XX, destacam-se no manto relvado, a par de um espelho de água, incluído nas obras de restauro, entre 2011 e 2013, numa clara evocação espiritual de uma das muitas utilizações deste espaço verde da Fundação Eugénio de Almeida, no centro histórico de Évora. Mandado construir por Francisco da Silveira, 3º coudel-mor de D. Manuel I e de D. João III, este jardim intramuros guarda quatro painéis de pinturas a fresco, um exemplar raro, na Península Ibérica, de pintura mural palaciana do século XVI (1520). Para conhecer melhor este lugar, que foi residência de sacerdotes jesuítas e, já no século XIX, casa do Teatro Eborense, estão disponíveis visitas guiadas, uma viagem de 45 minutos que revela pormenores da arquitetura, fábulas e metáforas que se escondem naqueles frescos, em garças, sereias, galos e figuras mitológicas, como a harpia e a hidra de sete cabeças. Fundação Eugénio de Almeida > Lg. do Conde de Vila Flor, Évora > T. 266 748 350 > ter-sex 10h-13h, 14h-18h, sáb-dom 10h-13h > grátis > visitas guiadas (marcação prévia) €3
5. Quinta da Aveleda, Penafiel
Azáleas, rododendros, camélias e cerejeiras florescem entre sobreiros, carvalhos, magnólias e sequoias monumentais. Não faltam tons de verde na paisagem da Quinta da Aveleda, propriedade da família Guedes desde o século XVII, que, em março de 2020, passou a integrar a Rota dos Jardins Históricos do Baixo Minho. Deixe-se para trás o edifício de enoturismo do arquiteto Diogo Aguiar, nomeado para o prémio de arquitetura contemporânea Mies van der Rohe 2022, e a Adega Velha, para percorrer devagar os caminhos deste tesouro guardado por cinco gerações. São oito hectares de Natureza pura, onde se contam mais de 114 espécies botânicas, rodeadas por vinhas a perder de vista. Ao longo do passeio, por este jardim romântico, repleto de histórias, e pela mata de estilo francês, somos surpreendidos a cada passo. Para lá do vale de fetos e da alameda das camélias, com mais de 90 espécies, surge uma fonte e a casa do porteiro. Com teto de colmo e pormenores em cortiça, parece ter saído de um conto dos irmãos Grimm, tal como a casa de chá, ao mesmo estilo, construída sobre uma ilha artificial, ou a torre das cabras, todos sem funcionalidade específica. Entre a densa vegetação, há ainda uma janela manuelina onde, dizem, D. Pedro IV terá sido aclamado rei de Portugal, ali “plantada” por Manoel Pedro Guedes, o fundador da empresa de vinhos. Apesar de ser o maior produtor e exportador de vinho verde em Portugal, a Quinta da Aveleda continua a preservar este lugar, como no passado. Há três visitas guiadas diárias, com marcação prévia, provas de vinho e piqueniques na mata. Um lugar para conhecer em passo lento. S.S.O. R. da Aveleda, 2, Penafiel > T. 255 718 242 > seg-sex 10h, 11h30, 15h, sáb-dom 10h, 11h30 > a partir de €8/pessoa, com marcação prévia
6. Cerca de Tibães, Braga
É a maior cerca monástica preservada do País, com 40 hectares, 32 dos quais propriedade do Estado, onde se imaginam os dias de silêncio, trabalho e oração dos monges beneditinos que viveram no Mosteiro de São Martinho de Tibães até ao século XIX. Dois percursos (o mais curto de 30 a 45 minutos, o mais longo de uma hora e meia) dão a conhecer esta área murada na encosta do monte de São Gens onde, além de meditarem, os monges se abasteciam de cereais, fruta, legumes, madeira, vinho e azeite. “É um jardim com uma forte componente agrícola e de lazer. A simbiose entre o Homem e a Natureza, característica das comunidades religiosas”, lembra o historiador e diretor do mosteiro, Paulo Oliveira.
Próximo da antiga cozinha, observam-se campos e hortas (hoje cultivados em regime de comodato), ramadas de vinha, azevinhos, medronheiros, aveleiras. Cheira a alfazema e a alecrim. Há japoneiras, rododendros, azáleas pintadas de rosa, macieiras do Japão, flores espontâneas (violetas, anémonas, prímulas…) e muita água. A Fonte de São Bento e um tanque com anfíbios leva-nos ao Jardim do Banco. O escadório, dividido em sete patamares, cada um com uma fonte dedicada a uma das sete virtudes, serve de caminho até ao jardim e à Capela de São Bento. “É a alegoria barroca: a exaltação dos sentidos, a música da água das fontes, o cheiro que vinha dos pomares, a visão do vale do Cávado”, descreve Paulo Oliveira antes de mergulharmos na mata densa, com carvalhos, castanheiros, medronheiros… Junto ao lago, árvores centenárias de grande porte: o pinheiro–bravo mais alto do País (47 metros), dois cedros-do-himalaia classificados (38 metros) e uma tília (45 metros). Respeitar o tempo e a Natureza é o lema. Mosteiro de São Martinho de Tibães > R. do Mosteiro, 59, Mire de Tibães, Braga > T. 253 622 670 > ter-dom 10h-19h (última entrada 18h) > €4 (mosteiro e jardim), €1,50 (jardim)
7. Parque Pedras Salgadas, Vila Pouca de Aguiar
Um passeio por estes jardins será um regresso aos finais do século XIX e aos tempos áureos do termalismo. Até porque o parque termal de 20 hectares, nascido em 1871 com a descoberta das águas minerais e terapêuticas, que foi lugar de férias da realeza (rainha D. Maria Pia, reis D. Fernando II e D. Carlos…), não perdeu a alma da Belle Époque. Nos oito quilómetros de caminhos, entre a sequoia-gigante, cedros centenários, plátanos, nogueiras-pretas, abetos, tílias, palmeiras, teixos, ciprestes, medronheiros, choupos, castanheiros e magnólias, observam-se fontes, lagos e edifícios antigos (Casino, Grande Hotel, Casa de Chá e chalés) que convivem com 16 Eco Houses (do arquiteto Luís Rebelo de Andrade) e um spa, com desenho de Siza Vieira. Pedras Salgadas, Bornes de Aguiar, Vila Pouca de Aguiar > T. 259 437 140 > seg-dom 8h-22h (reabre a 30 abr) > grátis, visita guiada €6 (inclui museu e prova de água da nascente)
Foto de Capa: Lucília Monteiro
Fonte: Visão 7