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Cultura

No renovado Jardim Botânico de Coimbra, há nenúfares, fetos e pau-esteira

A vitória-régia já mora no lago aquecido da requalificada Estufa Grande do Jardim Botânico, em Coimbra. Ainda mal se vê este nenúfar, cujo nome parece ter sido dado pelos ingleses, em homenagem à Rainha Vitória, mas a sua folha, em forma de círculo, não deverá demorar muito a crescer – pode, mesmo, chegar aos dois metros e meio de diâmetro e suportar até 40 quilos. Nessa altura, será, com certeza, uma das joias da coroa desta estufa de vidro e ferro do século XIX que, depois de fechada durante quatro anos para obras de restauro, voltou a receber plantas dos quatro cantos do mundo.

As próximas semanas funcionarão como período experimental para que se verifique o comportamento das espécies neste “importante espaço de divulgação da Ciência, onde se faz investigação”, salienta António Gouveia, diretor do Jardim Botânico da Universidade de Coimbra, enquanto nos guia ao interior da estufa, requalificada por João Mendes Ribeiro. As três salas, cada uma com diferentes temperaturas, viram o seu interior renovado, com novos lagos, canteiros reconfigurados e uma escada que conduz a uma galeria superior. Se, na sala central, a menina dos olhos será a vitória-régia e outros nenúfares no lago, além das orquídeas da América do Sul e da Ásia, em vaso ou epífitas (porque crescem sobre troncos e ramos), na ala poente moram dezenas de espécies de ecossistemas tropicais húmidos. A maioria é proveniente de São Tomé e Príncipe, ao abrigo de um projeto de cooperação com a ilha, que envolveu a requalificação de um herbário no Centro de Investigação Agronómica e Tecnológica de São Tomé. Nesta sala, aquecida a 25 graus e com pulverização automática do ar, crescem, por exemplo, o pau-esteira, fetos e, até, plantas do café. Na terceira sala, encontramos as espécies mais comuns, provenientes de todo o mundo, desde a Índia até à ilha da Madeira (como os Sapatinhos, nome dado a um género de orquídea). No exterior, o arquiteto desenhou outras duas estufas mais pequenas para plantas suculentas e catos.

Uma estufa para o século XXI
As origens do Jardim Botânico de Coimbra remontam à época do Marquês de Pombal (1772). A estufa seria construída um século mais tarde, em 1859 (embora só em 1866 ficasse concluída), com o propósito de acolher plantas delicadas. Exemplar único em Portugal da arquitetura do ferro, com mais de 150 anos, necessitava de ser readaptada ao século XXI, nomeadamente, com outras condições de sustentabilidade energética.

A obra substituiu, por exemplo, os milhares de vidros de várias formas e tamanhos que são, agora, termicamente mais eficientes (com sete milímetros) e que “cortam a incidência solar direta”, lembra o arquiteto da obra. As sombras necessárias foram conseguidas com a colocação de cortinas no interior da estufa. E a caldeira nova que a aquece pode ser alimentada com os resíduos vegetais do jardim. Nesta obra de restauro e requalificação – que, em 2017, recebeu o Prémio Nacional de Reabilitação Urbana, na categoria de Melhor Intervenção com Impacto Social –, a estrutura de ferro original foi recuperada, preservando a traça do edifício. “Além do restauro, procurámos criar uma relação entre a arquitetura do passado e a de hoje, numa linguagem contemporânea”, descreve João Mendes Ribeiro.

A intervenção incluiu a construção de um novo edifício, que terá uma cobertura ajardinada, “a lembrar os espigueiros e as estruturas agrícolas”, onde funciona uma sala técnica, outra de atividades, além de uma área de lazer, criada à volta de um enorme jacarandá. Este projeto está inserido na requalificação do património da Universidade de Coimbra e, neste âmbito, esteve também incluída a reabertura, no ano passado, da mata adjacente que alargou a área visitável do jardim botânico para 14 hectares. Com a abertura da Estufa Grande haverá, por isso, novos motivos para a visita – sobretudo quando a vitória-régia, o tal nenúfar central, atingir o pico do tamanho e der flor já no próximo verão. Será preciso estar atento ao site do Jardim Botânico da Universidade de Coimbra, pois estão previstas visitas guiadas específicas por altura da floração, que durará poucos dias.

Foto: Lucília Monteiro
Fonte: Visão 7

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