Roteiros dos leitores: Revelar tesouros escondidos em Ovar
Foi para mostrar o lado menos conhecido da sua terra que Pedro Seixas meteu mãos à obra, em parceria com Cláudia Pinho e Cátia Almeida. Juntos propõem-se divulgar o património natural e cultural da região.
“A melhor forma de proteger o nosso território é conhecê-lo e dá-lo a conhecer”, lança Pedro Seixas, um filho da terra, onde chegou até a participar em projetos de Planeamento e Ordenamento do Território – a sua área de formação -, dedicado em particular às questões ambientais. Daí que a ideia inicial, quando se juntou a Cláudia Pinho e Cátia Almeida para criar uma empresa de passeios e experiências na região, fosse dar a conhecer principalmente os encantos naturais do concelho.
“Depressa percebemos que não podíamos deixar de parte o património cultural”, admite, tal é a riqueza do conjunto. Por isso, decidiram juntar os dois lados da moeda e criaram o Ovar Discovery Tours, com vários percursos guiados – disponíveis a partir de fevereiro – que mostram os atributos locais em passeios pelos recantos menos conhecidos do concelho. É o caso da vila de Válega, uma das freguesias mais antigas de Ovar, localizada no extremo sul do município. Um lugar pacato, rico em histórias e tradições, capaz de surpreender.
À descoberta de Válega:
# Os encantos da Ria
O cais do Puxadouro, num braço da ria de Aveiro, é a primeira paragem. “Antes da construção da linha de comboio, a ria era a principal via de transporte e aqui o cais funcionava como porto de trocas comerciais entre os concelhos vizinhos”, recorda Pedro. Hoje o canal faz parte da rede da CicloRia e no antigo estaleiro são recuperados barcos de recreio. Não muito longe dali, no cais do Torrão encontra-se outro jovem projeto voltado para a natureza. O RedAnimal Nature Spot é a mais recente aposta de João Paulo, que depois de abrir uma escola de surf na Praia do Furadouro se virou para os passeios de paddle na ria e acabou por se apaixonar por um pedacinho de terra ali plantado. O lugar é propício à observação de aves, como os flamingos e a garça-real, e João promove ainda programas em família com os burros Torrão, Junka e a “pequena” Pipoca.
# Uma das mais belas igrejas do país
De visita incontornável é a Igreja Matriz de Válega, considerada por muitos uma das mais belas do país, fama que deve aos vistosos painéis de azulejos que revestem a fachada e todo o seu interior. O santuário, dedicado a N. S. do Amparo, foi construído no século XIX – e pouco depois quase todo destruído por um incêndio, e mais tarde reconstruído. Mas só na segunda metade do século XX a frontaria foi revestida por azulejos policromáticos, evocando cenas bíblicas, pintados à mão na fábrica de cerâmica Aleluia. O teto da igreja, feito em madeiras exóticas do Brasil, é outra das atrações, assim como o sumptuoso retábulo em talha dourada e de traço barroco.
# De regresso à escola
No verão de 2019, inaugurou em Válega o Museu Escolar Oliveira Lopes, batizado em homenagem aos irmãos José e Manoel Oliveira Lopes, responsáveis pela construção da primeira escola primária da vila, aberta em 1910. O edifício que marcou gerações continua agora a suscitar memórias. “Esta era a minha sala de aula do 4º ano”, recorda Cláudia, ao passar numa sala que agora acolhe workshops e outras iniciativas. A escola cessou as aulas em 2014, mas é ainda um lugar onde se vai para aprender, não fosse o rico acervo acumulado ao longo dos seus 104 anos – e de outras escolas locais que foram encerrando -, dividido pelas várias áreas do museu. Na exposição permanente está recriada uma sala de aula do início do século XX, com mobiliário original da 1ª República. Há ainda espaços de exposições temporárias e um arquivo com objetos, documentos e livros antigos, que mostram evolução do ensino no último século em Portugal.
# Conservar as tradições
Na mesma rua encontra-se outra morada onde se vive a história, o Museu Etnográfico de Válega, instalado num solar com 300 anos. É um equipamento da Casa do Povo, que ali reúne uma coleção com mais de 3 mil peças recolhidas ao longo de quase 50 anos, com o propósito de perpetuar as tradições locais. Nas salas de exposição do museu vão-se revezando mostras dedicadas aos ofícios tradicionais da região e na loja à entrada são ainda vendidos produtos artesanais, como compotas, chás e infusões. Ao fundo do corredor abre-se o ex-líbris do museu, a cozinha, recuperada recentemente. Por marcação, Teresa Amaral, a diretora do espaço, prepara refeições típicas – a estrela são os rojões de Válega – e organiza ainda workshops de cozinha. Há também a oportunidade de terminar ali a tarde com um belo lanche, com rosca de canela, aromática e saborosa, acabada de sair do forno a lenha, e uma chávena de chá por companhia.
Fonte: Evasões