Galp fala sobre projetos no Brasil
A Galp é uma empresa especializada no mercado petrolífero responsável pela exploração e produção de petróleo e gás natural; refinação e distribuição de produtos petrolíferos; distribuição e venda de gás natural; e Comercialização de eletricidade.
A Câmara Portuguesa do Rio de Janeiro entrevistou o Engenheiro Miguel Pereira, Diretor da empresa Galp. Leia a íntegra da entrevista abaixo:
Quais os indicadores macroeconómicos mais relevantes para as contas da Galp a nível global?
A Galp, como operador integrado de energia, oferece, cada vez mais, soluções energéticas adaptadas ao mundo em que vivemos e aos novos desafios que temos pela frente. Enquanto cidadãos responsáveis somos chamados a contribuir ativamente na preservação e gestão sustentável dos seus recursos, o que fazemos em toda a nossa atividade, o que é alvo de reconhecimento de várias plataformas globais com é o caso do Dow Jones Sustainability Index 100, cuja lista a Galp integra. Nesse sentido, enquanto produtores – a Galp é atualmente, através da Petrogal Brasil, o terceiro maior produtor de petróleo e gás no Brasil – as cotações internacionais do petróleo e do gás natural são um dos indicadores mais importantes, uma vez que determinam o valor a que vendemos aquilo que produzimos. Atendendo à nossa posição em atividades de refinação em Portugal, estamos também expostos às tendências de margens de refinação, com enfoque no mercado europeu. Outros indicadores que podem influenciar os resultados das nossas atividades referem-se ao crescimento econômico mundial, que tem impacto direto na procura de produtos energéticos e na utilização de recursos tecnológicos para o seu desenvolvimento. O crescimento económico nos mercados em que operamos, como Portugal, Espanha, Brasil e diversos países africanos, como Angola, Moçambique ou Cabo Verde, também são importantes. Finalmente, importa referir a exposição às divisas com que operamos, como sejam o Real Brasileiro, o Dólar Americano ou o Euro. A influência de todos estes indicadores reflete-se depois por toda a nossa cadeia de valor, do upstream, até ao que chamamos o lifestream. Mas as alavancas mais relevantes para nós são aquelas em relação às quais temos capacidade de influência, ou seja, a definição e capacidade de executar a estratégia, a eficiência das nossas operações e a dinâmica competitiva de mercado na disputa da preferência dos clientes pelos nossos produtos e serviços. É aí que centramos os nossos esforços.
Que retorno esperam do investimento que a Galp tem feito na aquisição de participações em blocos petrolíferos no pré-sal da Bacia de Santos, como, a participação de 20% na área Norte de Carcará ou, mais recentemente, no campo de Uirapuru?
O Brasil é o nosso mercado estratégico prioritário, para onde a Galp tem dirigido cerca de 80% do seu investimento anual. Decidimos apostar no Brasil numa altura em que poucos acreditavam na existência de recursos petrolíferos desta dimensão no país, e em que muita da tecnologia necessária ao desenvolvimento dos projetos teve que ser desenvolvida de raiz. Graças a estes projetos, a Galp é hoje a empresa integrada de Oil & Gas que cresce a um ritmo mais acelerado, tendo ultrapassado em 2017 o marco de produção dos 100 mil barris de petróleo diários e devendo atingir os 150 mil barris diários em 2020. A nossa aposta nas áreas de Norte de Carcará e em Uirapuru está assim relacionada com esse reforço da posição que temos no Brasil através de ativos selecionados que possam ser desenvolvidos através de parcerias fortes em que a Galp tenha um papel ativo. No caso do Norte de Carcará, esta aposta está relacionada com a posição que detemos no bloco BM-S8 desde 2000 e onde fizemos uma das descobertas mais interessantes do Pré-Sal. Atualmente, continuamos a desenvolver trabalhos para aferir o potencial completo da descoberta de Carcará, que se estende para Norte na área a que se refere. É ainda cedo para discutirmos o retorno, tanto em Carcará como em Uirapuru, uma vez que ainda se encontram numa fase de avaliação. São apostas que suportam a nossa estratégia de crescimento com base em portefólios de elevada qualidade e com sinergias claras na nossa posição no Pré-Sal brasileiro. Como tal, temos boas expectativas em ambos os casos.
A aposta da petrolífera portuguesa no Brasil é cada vez mais profunda. Quais as grandes diferenças notadas, em valores, comparando o ano passado com o atual?
A Galp está a investir no Brasil desde há duas décadas e pretendemos continuar a apostar neste país. A nossa presença tem uma perspetiva de longo prazo. Atualmente, estamos focados no desenvolvimento inicial do projeto Lula/Iracema, no bloco BM-S-11, onde contamos já com sete navios-plataforma em operação e onde esperamos duas unidades de produção adicionais até ao final deste ano. Paralelamente, estamos a trabalhar nos projetos dos três campos de Iara, igualmente no bloco BM-S-11, que deverá iniciar produção no próximo ano. Para além destes relevantes projetos, estamos a trabalhar sobre outros ativos no pré-sal brasileiro, que deverão iniciar produção no decorrer da próxima década, e contamos também com 18 projetos de exploração dispersos por várias regiões, como Potiguar, Parnaíba e Barreirinhas.
A Galp vê algum risco futuro nessa extração do Pré-Sal no Brasil?
Esta é uma indústria exigente do ponto de vista tecnológico e de segurança, para o qual o desenho conceitual de soluções técnicas e a elevada (e continuada) qualificação dos profissionais é essencial. Por isso, as preocupações de segurança são a primeira prioridade em tudo o que fazemos. A atividade que desenvolvemos é complexa, sendo prática da indústria estabelecer parceiras técnicas e operacionais com especialistas mais reconhecidos na indústria a nível internacional nas diversas áreas, de modo a que a gestão do risco e a sustentabilidade dos projetos sejam asseguradas. Temos uma parceria duradoura com a Petrobras e trabalhamos conjuntamente com operadores tão relevantes quanto a Equinor, a Exxon, a Shell e ou a Total, a par com uma vasta lista de entidades em toda a cadeia de abastecimento. Temos uma ampla rede de conhecimento e, conjuntamente com os nossos parceiros, trabalhamos para assegurar o estrito cumprimento das melhores práticas mundiais ao nível da segurança e do ambiente. No passado recente, somaram-se os receios em torno da estabilidade geopolítica e regulatória, o que marcou muitas das nossas discussões com as mais variados stakeholders, quer brasileiros quer internacionais. Quando fazemos uma aposta como a nossa, de longo prazo, é necessária estabilidade e previsiblidade para salvaguardar a continuidade dos investimentos futuros com benefício para todas as partes. Mesmo num cenário de transição energética mais acelerada na utilização de fontes energéticas alternativas, o pré-sal brasileiro, pela sua relevância e competitividade, será certamente uma das regiões produtoras de hidrocarbonetos mundiais que julgamos poderá ter uma vida mais longa.
Quais as previsões e expectativas da Galp quanto ao projeto Kaombo?
Qual a percentagem da sua participação neste projeto? A Galp está presente em Angola desde 1982, sendo uma das áreas de foco da nossa atividade de upstream, a par do Brasil e de Moçambique. O projeto Kaombo, em que a Galp detém uma participação de 5%, é um dos projetos de E&P mais relevantes atualmente em desenvolvimento no país. Apesar de a nossa participação ser minoritária, estamos envolvidos no projeto com dedicação, até porque o início de produção no bloco 32 marcará o início de um novo ciclo do nosso portefólio angolano, que hoje enfrenta um declínio natural de produção, atendendo à maturidade dos campos em que participamos no bloco 14. A primeira unidade de produção está já na sua localização final em Kaombo Norte, e cuja produção se iniciou em julho passado.
Onde imagina a sua empresa daqui a 10 anos?
Seremos com certeza uma das grandes empresas do setor da energia no Mundo. No setor energético – e em especial no Oil & Gas – não nos limitamos a imaginar o futuro a 10 anos, estamos já a construí-lo. Esta é uma Indústria de capital intensivo e que, portanto, tem prazos de recuperação longos para os seus investimentos, cujo montante é muito elevado. Por isso temos de planear a médio e a longo prazo. A discussão atual da transição energética que vai acontecer nas próximas décadas é algo que já está interiorizado na atual direção estratégica da empresa. Assim, a Galp está já a preparar o seu posicionamento para as próximas décadas como um facilitador da transição energética, nomeadamente através da nossa participação nos grandes projetos de gás natural no norte de Moçambique – um dos maiores projetos em curso em todo o mundo. O gás natural – em conjunto com as energias de fonte renovável – será um dos protagonistas da produção de energia necessária para alimentar uma crescente procura, sobretudo em setores como o transporte pesado rodoviário ou marítimo de mercadorias e, mais ainda, na produção de eletricidade, substituindo o carvão, que pode emitir mais do dobro do CO2, além de outras partículas com elevado impacto ambiental e social. Mas sempre nos assumimos como uma empresa de energia, e temos atividades para lá do Oil & Gas. Teremos também uma presença na produção de energias de fonte renovável, e como outro tipo de soluções que estejam associadas à energia, atividades a que estamos já a dedicar até cerca 15% do nosso investimento. Teremos provavelmente uma ação marcadamente mais internacional na qual o Brasil será inequivocamente a geografia âncora. E isso é uma aposta de hoje, e que renovamos todos os dias.
Fonte: Câmara Portuguesa de Comércio e Indústria do Rio de Janeiro