11 parques e jardins para passear ao ar livre – agora que começa a primavera
1. Tapada da Ajuda, Lisboa
Junto à Terra Grande, o maior terreno de ensaios do Instituto Superior de Agronomia (ISA), um bando de perdizes saltita, indiferente, a quem caminha a passo lento e descontraído por um dos trilhos da Tapada da Ajuda, em Alcântara, reaberta oficialmente em janeiro, depois de vários meses de obras. Este complexo intramuros de 100 hectares, que é campus universitário e parque botânico e ambiental, regressou ao usufruto dos visitantes e alunos, com novos e renovados percursos pedonais e cicláveis, por onde se passeia entre alamedas de zambujeiros e oliveiras, exemplares da arquitetura civil do século XIX, como o Pavilhão de Exposições e o edifício principal do ISA, Minas de Água e o auditório de pedra, escondido no meio da vegetação.
São vários quilómetros de caminhos que ligam os quatro portões de entrada na Tapada, e esta ao vizinho Parque Florestal de Monsanto, uma forma de (re)descobrir esta zona verde, dentro da cidade. “É um lugar relativamente desconhecido, onde vemos esquilos, perdizes, coelhos bravos e com uma grande diversidade botânica. Há cerca de 700 espécies de árvores e arbustos autóctones e exóticas”, contabiliza Pedro Arsénio, docente e diretor do Herbário do ISA e um dos colaboradores do Programa Estratégico para o Desenvolvimento do Campus da Tapada da Ajuda. A obra resulta da parceria com a Câmara Municipal de Lisboa e está integrada na Lisboa Capital Verde Europeia 2020, “mas é também o início de um projeto maior que pretende revitalizar a Tapada da Ajuda”, explica Ana Luísa Soares, diretora do Jardim Botânico da Ajuda e colaboradora do programa.
A par dos percursos, há também nova sinalética de orientação e de identificação de espécies (com códigos QR), e mobiliário exterior, como bancos a partir dos quais se aprecia a vista junto à vinha de uvas brancas e ao pomar de maçãs Fuji e Royal Gala, “umas das mais bonitas intervenções”, segundo Ana Luísa Soares. Já Pedro Arsénio prefere apreciar a beleza das vistas panorâmicas a partir de um outro banco, junto ao Observatório Astronómico de Lisboa. “Vê-se até Palmela”, diz. Portão da Ponte, R. Prof. Vieira Natividade, Lisboa > Portão do Polo da Ajuda > seg-dom 9h-19h (até final de abril) > Portão Jau, Cç. Tapada > seg-dom 7h-24h > grátis
2. Jardim da Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa
Dificilmente haverá melhor cenário para desconfinar ao ar livre, do que o jardim da Gulbenkian, esse esconderijo nada secreto que Lisboa guarda, perfeito para passear o corpo e a alma. É ao som da água que se descobrem os diversos recantos, ouvem-se pintassilgos, tordos e estorninhos, entre outros pássaros que por ali fazem ninho, em alfarrobeiras, pinheiros e palmeiras-anãs. Durante o passeio, cruzamo-nos com patos, tartarugas e, claro, algumas esculturas, entre outras peças de arte. Menos movimentado do que antes da pandemia, há quem venha recarregar baterias e respirar ar puro em longas caminhadas, conversas animadas e leituras sossegadas. S.P. Av. de Berna 45A, Lisboa > seg-dom, do nascer ao pôr do sol > grátis
3. Jardim Botânico Tropical, Lisboa
Há pavões, patos e gansos, como noutros espaços ao ar livre, mas só aqui encontramos plantas de outras paragens que, curiosamente, se dão bem connosco. Na zona de Belém, o Jardim Botânico Tropical, com 114 anos, e muitas camadas de História, reabriu renovado ao som da água, em janeiro de 2020.
Ali, há cerca de 600 espécies tropicais e subtropicais, de mais de uma centena de famílias de todo o mundo, em sete hectares de terreno. Note-se que 16 dessas espécies estão em risco (sete “ameaçadas” e nove “vulneráveis”). O imponente dragoeiro que avistamos a um canto da rua das Plantas Primitivas já ali estava antes do documento régio de 1906 que criou este jardim. Quem agora vier para aqui passear, sente bem a diferença, desde logo no pavimento por onde se caminha, mas também na água que voltou a correr nas cascatas, jatos, fontes e lagos, por entre a vegetação.
Espreite-se o lago principal, mandado construir em 1903 e, agora, reparado das fissuras e tornado mais resistente a quedas, e aprecie-se a vegetação luxuriante, composta por cicadáceas e zamiáceas. A Ilha das Fruteiras, mesmo no meio da água, também foi reabilitada, e os novos bancos contemplativos são a prova disso. É curioso ver como frutos tropicais, como bananeiras, abacateiros ou pitangueiras, crescem tão bem no meio de Lisboa. A avenida-ícone, rodeada por enormes palmeiras, bem ao estilo tropical, chama-se alameda das Washingtonias ou de D. João V, porque foi ele quem as mandou plantar assim, neste alinhamento barroco. Existem tantos pormenores neste jardim que, mesmo passando aqui o dia, não conseguiríamos contar todas as suas histórias. L.O. Lg. dos Jerónimos, Lisboa > T. 21 360 9660 > seg-dom 10h-17h (mar), 9h-20h (abr-nov) > €4, menores de 10 anos grátis, 10-18 anos e maiores de 65 anos €2, família (2 adultos + 2 crianças) €10
4.Quinta do Pisão, Cascais
Seguindo a bonita estrada da Lagoa Azul, chega-se à Quinta do Pisão, 380 hectares escondidos aos pés da serra de Sintra, em pleno Parque Natural Sintra-Cascais. A paisagem convida a longos passeios a pé ou de bicicleta, com pausas à sombra dos pinheiros. Com tanto campo para explorar, é fácil manter a distância de segurança nesta quinta onde, além de numerosos trilhos, há uma Horta Biológica que também já retomou o normal funcionamento. Neste mercado ao ar livre, os clientes apanham, diretamente da terra, os vegetais que querem comprar.
Outrora dedicada à atividade agro-silvo-pastoril, o Pisão constitui um importante património ecológico, cultural e histórico do concelho de Cascais. A vegetação, de uma riqueza única, é constituída por aroeiras, sobreiros, zambujeiros, salsaparrilha, ulmeiros, abrunheiro-bravo, sanguinho-das-sebes, carrasco ou gilbardeira. São também várias as espécies de fauna que por aqui habitam: perdiz, águia de asa redonda, peneireiro-comum, garça-real, raposa, geneta, coelho-bravo, cobra-de-escada, lagartixa-do-mato comum e a salamandra de pintas amarelas. Há ainda outros residentes, os burros mirandeses e um rebanho de ovelhas que fazem as delícias das crianças. Por agora, mantém-se suspensas as atividades radicais, o aluguer de segways, os passeios de burros e a cavalo, assim como os agradáveis piqueniques no parque de merendas. Ainda assim há muito campo para passear. Estrada da Serra, Cascais > T. 21 581 1750 > seg-dom, 9h-18h (out-mai), 9h-21h (jun-set) > Horta Biológica seg-sex 9h-12h, sáb 9h-13h> grátis
5. Parque da Liberdade, Sintra
Passo a passo, vai-se subindo a Volta do Duche, no centro da vila de Sintra. A meio caminho, fica o Parque da Liberdade, lugar de flora exuberante, onde vivem mais de 60 espécies diferentes de árvores, flores e arbustos, entre araucarias-de-norfolk, casuarinas, cedros-do-himalaia, ciprestes-da-califórnia ou castanheiro-da-índia. Num sobe e desce de trilhos, escadas e caminhos calcetados, passeia-se a pé, num cenário tranquilo com lagos e fontes de água fresca que parecem surgir sem darmos conta. Entre os vários percursos possíveis, vão-se descobrindo entre o arvoredo, o antigo rinque (levem-se os patins ou a bola) e muitos recantos com sombras frondosas, ideais para uma pausa. Volta do Duche, Sintra > seg-dom 9h-17h > grátis
6. Jardins do Palácio de Cristal, Porto
Varanda sobre o rio Douro e as zonas ribeirinhas, estes jardins românticos e históricos do Porto foram concebidos no séc. XIX pelo arquiteto paisagista Émille David, aquando da construção do original Palácio de Cristal (entretanto, substituído pelo Pavilhão Rosa Mota na década de 50 do séc. XX, nome a que hoje acresce a designação Super Bock Arena). O principal eixo é a avenida das Tílias, onde costuma decorrer, nos últimos anos, a Feira do Livro do Porto, e donde se chega a algumas das edificações principais, como a Biblioteca Municipal Almeida Garrett, a Concha Acústica e a Capela de Carlos Alberto da Sardenha (de 1849). Mas vale a pena fugir deste caminho e descobrir os diferentes jardins temáticos, como o roseiral, o jardim das plantas aromáticas e o das medicinais. Além de belos exemplares de rododendros, camélias, araucárias, ginkgos e faias, os jardins são pontuados por pequenas fontes, lagos e estátuas. Livres passeiam os vaidosos pavões, a dar outro colorido.
7. Parque de Serralves, Porto
A magia dos 18 hectares do parque, pedra basilar da Fundação de Serralves, é sobejamente conhecida. Existem os belíssimos jardins formais, as matas e uma quinta tradicional – o conjunto projetado pelo arquiteto Jacques Gréber nos anos 30 do século XX, mantém-se reconhecível – e, mais recentemente, foi construído um Treetop Walk, passadiço elevado ao nível da copa das árvores, para observação da biodiversidade de Serralves. O certo é que, seja nas alturas ou vagueando pelos diferentes trilhos, a riqueza natural do parque convida a explorações da fauna e da flora – só o património arbóreo e arbustivo inclui mais de 8000 exemplares de plantas lenhosas. Os visitantes podem passear livremente ou participar numa das atividades do serviço educativo. Expostas em permanência pelo parque estão várias esculturas da Coleção da Fundação de Serralves. A Casa de Serralves, o Museu, a Biblioteca e Casa do Cinema Manoel de Oliveira continuam temporariamente encerrados. R. D. João de Castro, 210, Porto > T. 22 615 6500 > seg-sex 10h-19h, sáb-dom 10h-13h > €10
8. Jardim das Virtudes, Porto
O paredão com vista para o velho casario e para o rio, que começou a ser construído em 1788, é um dos miradouros mais conhecidos da cidade. Um cronista do séc. XVIII escreveu sobre o Passeio das Virtudes que não há, no Porto, «sítio nem mais ameno nem mais agradável.» Mas este local, no coração do centro histórico, guarda outras preciosidades. Ao lado da Cooperativa Cultural Árvore, pode passar despercebido o portão verde de entrada para o Jardim das Virtudes. Mas o espaço construído em socalcos, onde funcionava a antiga Companhia Hortícola Portuense, merece ser explorado. Ali está plantada a ginkgo com mais de 30 metros de altura, do século XVIII, originária da China, uma das árvores do Porto classificadas como de interesse público. Observe-se ainda o Chafariz das Virtudes, fontanário construído em 1619, classificado como monumento nacional, e as esculturas Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse (1970) de Gustavo Bastos, a Roda (2013) de Paulo Neves, a Árvore das Virtudes (2013) de Vítor Ribeiro e A meio entre isto e aquilo (2013) de Isaque Pinheiro. R. de Azevedo de Albuquerque, Porto > seg-dom 9h-19h > grátis
9. Quinta de Bonjóia, Porto
Na zona oriental da cidade, com uma área de cerca de 40 mil metros quadrados, a quinta tem como atração o palacete, que se julga ter sido projetada por Nicolau Nasoni. Construído em 1759, mas nunca concluído, está classificado como Monumento de Interesse Público. À sua volta, estão os jardins formais, por esta altura repletos de cameleiras floridas. A propriedade prolonga-se para sul, soalheira, voltada para o Vale de Campanhã e para o rio Douro, com uma disposição por patamares de diferentes níveis. Adquirida pela câmara municipal do Porto, em 1995, ali está a ser pensada uma extensão do Museu da Cidade. R. de Bonjóia, 185, Porto> seg-dom 9h-19h > grátis
10. Quinta da Conceição, Matosinhos
Antiga propriedade particular, em Leça da Palmeira, resultante da união de duas quintas, foi adquirida pela Câmara Municipal de Matosinhos e transformada em parque público, numa intervenção assinada pelo arquiteto Fernando Távora, durante a década de 60 do séc. XX. Uma caminhada pelo bosque frondoso e áreas relvadas desvendará os vestígios do antigo Convento de Nossa Senhora da Conceição, espalhados pela quinta, como um claustro, um portão ao estilo manuelino, uma capela, fontes e estátuas. Entre muros altos e árvores centenárias, esconde-se a piscina, projetada por Siza Vieira em 1965, só aberta durante a época balnear. Os courts de ténis também se encontram encerrados. Existem duas entradas para o parque, uma junto ao Porto de Leixões, e outra no topo superior da quinta, mais próxima da piscina. R. Vila Franca e a Av. Dr. Antunes Guimarães, Leça da Palmeira, Matosinhos > seg-dom 9h-19h > grátis
11. Quinta das Lágrimas, Coimbra
Com uma história de mais de sete séculos, a quinta foi constituída como couto de caça da Família Real Portuguesa. Os jardins foram cenário da paixão proibida entre D. Pedro e Inês de Castro e estarão sempre associados a esse romance trágico, imortalizado por Camões n’Os Lusíadas e por muitos outros autores. Na Fonte das Lágrimas, onde as ninfas do Mondego terão chorado a morte da fidalga, diz-se que as rochas rubras ainda guardam o sangue derramado. Parte da atual configuração dos 10 hectares, na margem esquerda do Mondego, remonta ao séc. XIX, com lagos e espécies exóticas e raras (a conforeira, o podocarpus, o ficus), características de um jardim romântico. No início deste século, já com a quinta na posse da Fundação Inês de Castro, foram feitos sucessivos restauros, a cargo da arquiteta paisagista Cristina Castel-Branco. Foi então recriado um jardim medieval, restaurados os muros da mata, os canais da Fonte das Lágrimas e da Fonte dos Amores, plantadas cortinas de vegetação, uma alameda de sequoias e construído o Anfiteatro Colina de Camões, palco de concertos e outros espetáculos. A envolver os dois jardins, na encosta íngreme, há ainda a mata, com enormes exemplares de cedros do Líbano, pinheiros do Alepo, cedros do Buçaco e sequoias. E uma bela vista de Coimbra. Este sábado, 20, às 10h, será realizada uma visita guiada por Cristina Castel-Branco, para experimentar um tranquilizante banho de bosque (marcação obrigatória). Quinta das Lágrimas > R. António Augusto Gonçalves, Coimbra > T. 91 810 8232 > ter-dom 10h-19h > €2,50 (bilhete simples)
Foto de Capa: Luís Barra
Fonte: Visão 7