Forte de Santo António de cara lavada para celebrar a democracia
O forte de Santo António da Barra, no Estoril, abre ao público na quarta-feira, após trabalhos de limpeza e reabilitação da Câmara de Cascais, que quis devolver a dignidade ao monumento em tempos de democracia e de liberdade.
Muitos azulejos históricos foram vandalizados e as janelas e o pouco mobiliário estava destruído.
“Ficámos com o forte apenas por um prazo de um ano e, portanto, também quisemos demonstrar que tínhamos capacidade para, de facto, travar a degradação que estava a haver no forte e dar-lhe uma dignidade mínima em relação àquilo que ele representa até na própria História de Portugal”, explicou à agência Lusa Carlos Carreiras (PSD).
O presidente da autarquia de Cascais acrescentou que “era preciso definir uma data” para abrir o monumento com cinco séculos à população, de acordo com o compromisso assumido pelo município com o Governo, no acordo de cedência assinado, a 13 de março, com o Ministério da Defesa Nacional.
“Vamos abri-lo no dia 25 de Abril, permitindo que todos o conheçam, contando a própria história do forte, desde que ele foi edificado”, no século XVI, frisou o autarca.
Desde que recebeu a chave do monumento, situado em São João do Estoril, entre o mar e a Avenida Marginal, a autarquia avançou com quatro linhas de intervenção, a primeira das quais consistiu na desmatação da “zona envolvente ao forte”, proporcionando para a linha de costa “uma vista que poucos cascalenses conheciam”, conforme notou Carlos Carreiras.
O segundo nível de intervenção passou pela limpeza de ‘graffiti’ nas paredes e painéis de azulejos, com a pintura de uma parte das paredes da fortificação, complementada com a reabilitação dos azulejos “vandalizados e partidos”, mediante a reposição de elementos decorativos em falta fornecidos pela cerâmica Viúva Lamego, que mantinha os moldes originais de uma anterior empreitada no imóvel.
“Uma quarta linha [de intervenção] foi obviamente a vedação que foi estabelecida, incluindo nós dentro da própria área dos terrenos municipais que estavam ao lado do forte”, frisou o presidente da autarquia.
Segundo dados da autarquia, durante 40 dias estiveram envolvidos para dar ao forte “uma nova cara” 114 trabalhadores municipais, num “investimento inicial de 800 mil euros”, com a remoção de “600 toneladas de entulhos e lixos”.
Carlos Carreiras revelou que, a par da abertura de portas, os serviços municipais vão continuar o levantamento para a reparação de toda a instalação elétrica e canalizações, mas também para “introduzir as novas tecnologias no próprio forte e apresentar ao Governo [o projeto para] o que será o forte no futuro”, com novas funções e o orçamento da sua recuperação total.
O autarca adiantou que, após a abertura no 25 de Abril, o monumento passará a “abrir pontualmente”, à semelhança da Fortaleza de Nossa Senhora da Luz, junto à Cidadela de Cascais.
“Se os trabalhos que lá vão ter de continuar a ser realizados permitirem, gostaria que, pelo menos durante os fins de semana, possa estar aberto e, no verão, tenha uma abertura com períodos mais extensos”, vincou.
Será o autarca a abrir as portas do monumento à população, entre as 14:00 e as 19:00, no âmbito das comemorações dos 44 anos da revolução de 25 de Abril de 1974, com a presença esperada do secretário de Estado da Defesa Nacional, Marcos Perestrello.
Além de uma exposição alusiva à história da fortificação, o programa prevê a atuação dos coros do Conservatório de Cascais, de Câmara de Cascais, ‘Discantus’ e ESSA, da Escola Salesiana de Santo António do Estoril, encerrando com o Hino Nacional, numa interpretação da Banda Juvenil da Sociedade de Instrução e Recreio de Janes e Malveira.
O presidente da autarquia salientou que a iniciativa também se insere no âmbito da Capital Europeia da Juventude, este ano em Cascais, para associar os “valores da democracia e da liberdade aos jovens”.
“São valores que precisam permanentemente de continuarem a ter militantes, porque no dia em que se der como garantidos, é no dia em que começamos a perdê-los”, avisou Carlos Carreiras.
O Forte de Santo António da Barra, edificado durante a ocupação filipina, teve um papel relevante no âmbito da Restauração da Independência (1640), constituindo um ponto importante do sistema de defesa marítima de Lisboa.
A fortificação foi utilizada, durante o Estado Novo, como residência de férias do ditador António Oliveira Salazar, que ali sofreu uma queda em 1968, contribuindo para a degradação do seu estado de saúde até à morte em 1970.
Fonte: Mundo Português